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A terceira noite

Written by: Hans Christian Andersen

Numa estreita rua perto daqui, tão estreita que eu só posso deixar meus raios deslizarem pela parede das casas, eu vejo o suficiente para conhecer o mundo que se move ao redor desse lugar. Eu vejo e me lembro... há dezesseis anos, ela era uma criança, ela brincava com uma bola no jardim da casa paroquial. Os jacarandás que lá estavam, eram muito antigos. Eles duram anos e florescem e lutam para se manterem majestosos entre as árvores. Havia também macieiras.
Os galhos das árvores disputavam bravamente no corredor um lugar para se manterem em pé e receberem a luz do sol. As rosas estavam esparramadas aqui e acolá. Elas não eram bonitas como a rainha das flores deveria ser. Mas as cores
estavam lá, os cheiros estavam lá. A filhinha do pastor encontrou uma rosa muito mais bonita. Ela se sentou em seu banquinho junto à cerca viva e beijou a boneca de papelão, feita por um artista. Dez anos depois, eu a vi novamente. Eu a vi no magnífico salão de baile, ela era a linda noiva de um rico comerciante.
Fiquei feliz com a felicidade dela. Então em minhas visitas a essa cidade procurei-a pelas noites tranquilas. Oh, ninguém pensa no meu olhar claro, no meu olhar seguro, na minha rosa que, naquele momento também brilhava como os meus raios. A vida também tem suas tragédias, esta noite eu vi o último ato. Na rua estreita, mortalmente doente, ela se deitava na cama. Nesse momento seu marido entra puxa o cobertor que a protegia do frio e disse: "Levante-se!"; “Estou com pressa, você precisa estar pronta para ficar à janela de frente para a rua.!” Ela somente pode dizer: "A morte está no meu peito!" "Oh, deixe-me descansar!”
Mas ele tirou da cama, pintou suas bochechas, colocou uma rosa em seus cabelos e sentou perto da janela. Deixou uma luz acesa por perto e foi-se. Eu somente podia acompanhar toda aquela cena. Ela sentiu-se oprimida, sem força. Sua mão caiu ao lado, uma das abas da janela abriu com o vento, mas ela ficou parada, a cortina ondulou como uma chama sobre ela, ela estava morta. Da janela aberta podia-se aprender uma lição sobre a minha rosa do jardim da casa paroquial.

© Todos os direitos reservados a H.C Andersen Institutte ®

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