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Décima oitava noite

Written by: Hans Christian Andersen

" Já contei a você sobre Pompéia," disse a lua, este cadáver de uma cidade morta exposta ao ar livre para as outras cidades vivas. Mas, surpreendentemente, vi algo ainda mais estranho! Não era um cadáver, mas o fantasma de uma cidade. Sempre que uma fonte espirra sua água para uma bacia de mármore, lembro-me da Cidade Flutuante. O repuxo da água fala sobre ela, assim como as ondas do mar parecem cantar sua fama! Às vezes, ao se olhar para o mar, vê-se uma bruma que lembra um véu, talvez o de uma viúva que acaba de perder seu noivo. O noivo das ondas morreu. Nas profundezas do mar estão seu palácio e sua cidade. Lá está seu mausoléu! Você conhece essa cidade? Imagine uma cidade de onde nunca se ouviu o barulho das rodas de uma carroça ou o trote de cavalos, ao contrário, nelas nadam os peixes enquanto fantasmagoricamente, uma gôndola negra desliza sobre a água verde? Vou descrever esse lugar, disse a lua. “ Vou conduzi-lo até a praça principal. Você já se imaginou sendo transportado para uma cidade de contos de fadas? Ali a grama cresce entre os largos azulejos, e durante o dia há milhares de pombos mansos se alimentando ao redor da solitária e imponente torre. Dos três lados você estará cercado por alamedas. De um lado o turco está sentado com seu longo cachimbo, em silêncio; do outro, o grego elegante inclina-se para o mar e olha para os obeliscos, mastros de bandeiras, monumentos todos comemorativos de um poder que não existe mais. Ficou na lembrança. Dos mastros caem bandeiras, sem vida, como se estivessem de luto. Uma menina descansa lá, rodeada por essa paisagem. No chão estão suas ânforas cheias de água. Livrou-se dos suportes para carregá-las e encostou-se em um dos pilares sobre o qual descansa a estátua da deusa Vitória. Ao longe vê-se uma uma construção, não é um palácio de contos de fadas. É uma Igreja. Cúpulas douradas brilham e refletem os raios do sol e os meus raios . Os poderosos cavalos que podem ser vistos lá no topo das colunas, já fizeram viagens como as dos contos de fadas. Quantas foram as suas viagens!! Vocês já repararam a beleza dos muros e janelas? Obra de algum gênio que ouviu os pedidos de uma criança caprichosa ao decorar esses templos únicos. O leão alado que se vê daqui, não pode mais bater suas asas, como o rei dos mares perdeu o poder e a vida. Não há vida nesse lugar, os edifícios estão desertos, as pinturas perderam a cor. As paredes, por essa razão parecem nuas e sem graça. O homem sem teto dorme sob as arcadas desse prédio, cujo andar outrora era pisado apenas por poderosos senhores. A partir dos poços profundos, ou das prisões próximas da Ponte dos Suspiros são ouvidos lamentos e queixumes, muito diferente dos sons que se ouvia vindo das músicas, festas realizadas nas gôndolas quando o anel de casamento voou da excelente Bucentauro para Adria, a rainha do mar coberta pela névoa do passado! O véu da viuvez encobre sua silhueta, o desgosto deve cobrir o mausoléu daquele que todo ano a desposava: o Dodge da fantasmagórica e marmoreal Veneza.

© Todos os direitos reservados a H.C Andersen Institutte ®

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