Written by: Hans Christian Andersen
A Rainha da Neve 👑❄️ - 6° Parte
A primeira parada foi em uma casa muito estranha. O telhado descia até ao chão e a porta era tão baixa que uma pessoa precisava agachar-se para não bater com a cabeça no batente, De qualquer forma não importava porque lá se encontrava apenas uma velha senhora fritando peixes sob a luz de uma lamparina alimentada por óleo de baleia.
A senhora pediu que contassem a sua história. Foi a rena quem falou e contou logo a sua por por primeiro porque, segundo ela, era a mais importante, depois contou a de Gerda. Essa por sua vez, não conseguia articular uma só palavra tal era o frio que sentia.
– Tenho pena de vocês. Há muito caminho pela frente. Terão de percorrer mais de 100 milhas por toda a região de Finmark. É lá que a Rainha da Neve vive. Todas as noites ela queima luzes azuis. Não tenho mais informações. Vou escrever um bilhete para a mulher de Finmrak. Ela poderá ajuda-los mais do que eu, pois conhece melhor a Rainha da Neve. Como não tenho papel vou escrever nesse pedaço de bacalhau seco.
Depois de Gerda ter-se alimentado e aquecido, montou de novo na rena. A senhora deu-lhe o pedaço de bacalhau e pediu que não o perdesse. Para estar mais seguo amarrou na rena. A rena pôs–se a galope. Gerda e a rena foram acompanhadas durante toda a noite pela Aurora Boreal. Maravilhosa! Toda azul, salpicando o céu de vermelho. Venceram o caminho. Chegaram a Finmark. Bateram à chaminé da mulher finmarquesa porque a casa nem porta tinha.
O interior da casa era muito quente, exageradamente quente. A pequena mulher estava quase nua. Ela era muito feia. Foi tirando a roupa de Gerda para que ela não sofresse com o intenso calor que havia dentro da casa. Colocou gelo na cabeça da rena e passou a leitura do bilhete que estava escrito no bacalhau. Leu muitas vezes a carta. Precisava decorá-la. Ela tinha um plano para o bacalhau. Assim que decorou a carta, pôs o bacalhau na panela pois seria comido mais tarde. Como ela já havia passado por muitas dificuldades, não desperdiçava nada.
Novamente a rena começou contando sua própria história, a mais importante, e depois de Gerda. A mulher de Finmark fez uma expressão muito inteligente, mas permaneceu calada.
Isso não passou desapercebido pela rena que comentou: – Você é muito inteligente. Nada escapa de sua observação, seu poder é muito grande. Alguém que pode amarrar todos os ventos do mundo com uma agulha. Assim, pergunto: poderia dar alguma coisa para essa menina beber que desse a ela a força de um Hércules?
– Tanta força não seria nada mal.
Em uma prateleira da casa puxou uma pele, desamarrou e dela podia-se ver umas letras muito estranha. A mulher começou a ler. A leitura e o que ela dizia eram tão fortes que ela suava em bicas.
Novamente a rena intercedeu por Gerda que, por sua vez, olhou para a mulher com os olhos cheios de lágrimas e de súplicas. A mulher repetiu a expressão anterior. Levantou-se, puxou a rena e segredou-lhe algo ao ouvido ao mesmo tempo que lhe punha gelo na cabeça.
O que ela disse para a rena?
O pequeno Kay estava com a Rainha da Neve, sim. O problema é que lá ele tem tudo do que precisa. Para ele aquele é o melhor lugar do mundo. O que o faz prisioneiro da Rainha da Neve é o grãozinho de vidro no olho e um estilhaço de vidro no coração. Ele precisa se libertar de ambos, caso contrário nunca sairá de lá pois a Rainha da Neve tem todo o poder sobre ele.
– Estou aqui pensando, você sabe tudo, é muito inteligente e tem muito poder, não teria algo que pudesse dar a Gerda de modo que ela pudesse libertá-lo de tudo isso? Perguntou a rena.
–Nada que eu pudesse dar a ela é maior do que a força que ela já tem. Todos a sua volta a servem. Pobre, sozinha, descalça, venceu o mundo. Ninguém precisa dizer a ela que ela possui uma força enorme, não temos nada para dar a ela que não seja menor do que a força que ela possui, pois sua força vem do seu coração, do coração de uma criança doce e inocente. Somente ela poderá entrar no castelo da rainha, somente ela poderá tirar os estilhaços do coração e dos olhos de Kay. Se ela não puder fazer, ninguém mais conseguirá. A distância daqui até o jardim da Rainha da Neve é de duas milhas. Leve-a até lá e deixe-a junto ao um arbusto com frutinhas vermelhas plantado na neve. Deixe-a lá e volte para cá. Não perca tempo, não converse.
A mulher da Finmark ergueu Gerda, colocou-a no lombo da rena que saiu em disparada.
Gerda lembrou-se de suas botas, de suas luvas havia deixado tudo para trás, mas a rena não parava de correr e não fazia menção de volta. Gerda estava ficando congelada. Quando chegaram em frente ao arbusto com os frutos vermelhos, a rena pôs Gerda no chão, beijou-a na boca. Lágrimas rolaram de sua face, mas obedecendo a senhora finmarquesa voltou-se em disparada deixando Gerda só, sob o frio congelante de Finmark.
Começou a correr e flocos de neve batiam em sua face, mas eles não caiam do céu que estava enfeitado pela Aurora Boreal. Naquele gelado lugar os flocos de neve pareciam ter vida, pareciam sentinelas, guardas protetores da Rainha da Neve. Eles apresentavam as formas mais estranhas de animais, mas tinham uma característica comum. Eram blocos de neve de verdade.
Gerda rezou o Pai Nosso enquanto via sua respiração sair pela boca como se fosse um fumo branco de tanto frio que fazia. Seu hálito foi ficando cada vez mais denso tomando formas de pequeninos anjos. Cada vez que um tocava o chão crescia e capacetes eram colocados em suas cabeças, tinham também lanças e escudos. O número de anjos guardiães aumentava enquanto Gerda rezava. Quando ela terminou sua oração estava cercada por uma multidão de anjos. Eles iam à frente de Gerda destruindo os blocos de neve, assim ela podia passar sem ser molestada. Gerda sentia-se segura e confiante. Os anjos tocavam-lhe os pés e as mãos para aquecê-la ajudando a andar mais depressa em direção ao castelo da Rainha da Neve.
E Kay? O que fazia? Estaria pensando em Gerda? Poderia supor que ela estivesse tão próxima à entrada do castelo da rainha da Neve?